Sunday, February 21, 2010

A minha dor

Hoje sinto-me mais inútil que o maior dos inúteis...

Sinto-me incapaz de actos benevolentes e de valor pelo simples facto de o apoio moral não ser o suficiente neste momento.
Percebo tanto essa dor e a maneira como tentas ver-te livre dela. Parece que nadas num mar sem fim mas ela nunca desaparece. A impressão que tens é que cada vez se expande mais, sem fim, sem limites.
Feliz e infelizmente passei por situações semelhantes. Escrevo aqui e agora a coisa mais dolorosa da minha vida logo após a morte da minha mãe (embora se tenha passado anteriormente).
Decidimos que seria óptimo eu tentar as artes de espectáculo uma vez que fui a aluna mais nova e com a média mais alta a ser admitida na escola - 19.8 valores com apenas 14 anos
Mal eu sabia que as coisas se mostravam mais negras do que eu pensava.

Flashback:
Tinha sido criada como uma princesa nascida num verdadeiro berço de ouro e de repente essa princesa deixou de existir. Aulas de ballet bastante dispendiosas porque de três em três meses precisava de sapatilhas novas. Aulas de música - onde aprendi e adquiri 3 instrumentos - guitarra, órgão e violoncelo (fora os livros de solfejo e a mensalidade da escola). A natação que também de três em três meses precisava de fatos de banho novos, e óculos novos - estamos a falar de marcas como a adidas e a arena que não são de todo baratas. A escola primária privada onde andei que levava uma grande parte dos ordenados dos meus pais, mas não fazia mal, existia dinheiro. Tive aulas de inglês numa escola privada durante bastantes anos, sempre com grandes mensalidades. O dinheiro não era um problema, nunca foi, pensava eu...O meu nono ano foi o culminar de muitas coisas!

Com a minha entrada para a EPTC - Escola Profissional de Teatro de Cascais tive noção de que a minha vidinha de princesa já tinha deixado de existir, estava apenas camuflada.
A minha mãe deixou Fátima porque não conseguia sequer ter o que comer. Acabámos todos no Barreiro com uma mão à frente e outra atrás. Não existiam sobras no suposto ordenado nem para papel higiénico do mais barato.
Sempre me disseram que era uma criança revoltada e de mal com o mundo. Se me conseguirem explicar que ter uma mãe doente psiquiátrica e um pai alcoólico não é motivo para traumas ou más disposições, aceito a explicação.
Se não fossem os meus avós eu provavelmente nem estaria aqui hoje.
Poderia estar viva e com eles, mas não estaria na faculdade com certeza. Não teria conhecido quem conheci.

Sinto-me inútil...
Porque partilhar apenas experiências não ajuda, não conforta. Não tira pesos de cima de ninguém.
Ai, se eu pudesse arregaçar as mangas e mandar-me de cabeça para te ajudar...
Não existem palavras que possam descrever a tristeza que sinto por ouvir a tristeza e a decepção. por tantas coisas, na tua voz. Doí-me a alma de pensar que não podes estar completamente bem. Aperta-se-me o coração quando penso que és tão novo e já dás tanto de ti, sem medos, sem olhares para trás, sem pensares em ti e pensando sempre nos outros...
Ainda bem que não tenho mais família...
O meu coração estaria desfeito por ter noção que não poderia fazer com que os meus pequeninos tivessem as oportunidades que eu tive, tudo porque o dinheiro não falta, mas não sobra.
Gostava de estar contigo arregaçar as mangas e lutar ao teu lado.
Por mais princesinha que possa ter sido, moral e valores foi coisa que sempre tive e sempre terei. Aprendi a ser humilde e a jogar-me às coisas dê por onde der. Sem medos e de cabeça erguida.
Os que me conhecem, mesmo que não tão bem como outros, vêm que não tenho medo de estragar o verniz das unhas.

Continuo a afirmar: Sinto-me a mais inútil dos inúteis...

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